INEVITÁVEL

A vida passa...

O mundo olha apreensivo

   [ou com descaso

A vida que vai passando

Uma criança morre

   um homem morre

      uma mulher morre

         o ancião também morre

A vida passa...

Indiferente a tudo

   flores nascem

      e crescem

nas sepulturas

   dos que morreram

CONTRADIÇÃO

O amor, 

     tudo compreende,

        tudo aceita.

E, por tudo aceitar,

     o amor encontra,

          naquilo que ama,

 a sua perdição.

(Homenagem a Daniel Lima,

poeta nascido em Timbaúba/PE, em 1916)

PATÉTICO

Dia é longo

      e a noite

          somente minha

Sinto que nunca fui

     o que pretendi ser

mas sigo, sigo em frente

Nunca desisti de mim...

Às vezes parecia

      que tudo dava errado

          e muito pouco dava certo

Agora sozinho

      tento fazer versos.

Sou patético!

HORAS AMARGAS

Entre as paredes do quarto

      sinto o [meu ] vazio

O nada me invade

Em horas amargas

      a noite vai se esvaindo

Aguardo o novo amanhecer

      trazer a claridade

          [e com ela

     o renascer de nova esperança

FLUIDEZ

Na fluidez do [meu] tempo
      sinto que há algo que fica
         algo que talvez nunca passe
            mas não fique.

O tempo flui...

O que fica,
      é um aprender triste:
         minha efemeridade!

O que fica,
     é meu ser despindo
         [sozinho]
e minha falta de vocação
      para ser poeta.

CANTO SILENCIADO

Há silencio...
Este silêncio
      é feito de agonias.

Nos leitos dos hospitais
      alguém geme,
      roga o perdão Divino
            por seus pecados.

Depois
      outro gemido
            agonizante:
a voz de [mais] um morto
      que deixou de cantar.

RUA ADORMECIDA

Escrevo estes versos

                       [versos?

      diante da janela aberta

O que vejo além da janela:

      a rua adormecida.

Sinto angústia

      a angustia dos que não dormem...

Há ladrões na rua

      tenho certeza!

Enfim

      vou padecendo na madrugada.

            

NOITE INSONE

A noite é tão silente

tão silente

    que quase escuto o silêncio

    gotejando partículas insones

Não consigo dormir

Sinto minha vida esvaindo-se

   pelo som de meu respirar

Insatisfeito

    levanto-me

  

ANGÚSTIA

Quando a noite chega

     envolta em mistérios

entre sonhos mal sonhados

    macambúzio

Passam por mim

    horas angustiantes

    solidão por companhia

    vida sufocada

Sonho

    ao amanhecer

    com um amor renascido

AMORES FUGIDIOS

Tive amores
Fáceis
Falsos
Complicados

Vagas utopias...

Tive amores
Entre beijos
Promessas
Fantasias

Os vi
    baterem as asas fugitivas
me deixando saudade

PANDEMIA

Nesta tarde

no isolamento 

sonho

Fico a imaginar 

as pontes sonolentas

e as ruas vagas

Lembro teus olhos

e percebo

 - enfim -

que neles

ainda há espera

Nesta tarde

no isolamento de mim

e da infernal pandemia

tenho um desejo

Vontade de quedar-me

silencioso

junto a teu corpo

Ver-me refletido

angustiante

nos teus olhos ternos